O Boto que não é rosa

Lenda

Reza a lenda que o boto cor-de-rosa, animal inteligente e semelhante ao golfinho que vive nas águas amazônicas, se transforma num jovem belo e elegante nas noites de lua cheia Normalmente ele aparece nas festividades de junho, nas comemorações dos Santos Populares (Santo Antônio, São João e São Pedro), as chamadas Festas Juninas. Vem vestido de branco e com um grande chapéu a fim de esconder suas narinas, pois sua transformação não ocorre totalmente. Dono de um estilo comunicativo, galã e conquistador, o boto escolhe a moça solteira mais bonita da festa e a leva para o fundo do rio. Lá a engravida e depois a abandona. Na manhã seguinte ele se transforma em boto novamente. Por esse motivo, a Lenda do Boto é utilizada muitas vezes para justificar uma gravidez fora do casamento. Ademais, costuma-se dizer que “a criança é filho do boto” quando é filho de pai desconhecido.

Importância Das Tribos

O boto cor de rosa foi sagrado para as tribos indígenas da Amazônia há milhares de anos. Há histórias de botos salvar as pessoas, orientando-os para a costa. Existem até contos de mudança de forma, onde eles se transformam em seres humanos para seduzir as mulheres na praia. Tribos amazônicas vivem no mesmo ecossistema que os botos do rio, e esses animais estão embutidos em seu folclore e histórias.

Botos X Golfinhos

Na classificação dos biólogos, não há nenhuma diferença, é só uma questão de nomenclatura regional. “O termo boto ganhou força no Brasil para nomear o pequeno cetáceo encontrado nos rios da Amazônia. A partir daí, passou a ser ensinado em escolas que boto era de água doce e golfinho, de água salgada. Mas essa diferença não existe”, afirma o biólogo Marcos César Santos, coordenador do Projeto Atlantis, que luta pela preservação desses animais. Algumas espécies de cetáceos chegam inclusive a receber os dois nomes, como é o caso do boto-tucuxi (Sotalia guianensis), também conhecido como golfinho-cinza. Animais muito inteligentes e ótimos nadadores, os golfinhos, ou botos, podem atingir velocidades de até 40 quilômetros por hora e saltar 5 metros acima da água, dependendo da espécie.

Você Sabia?

Os botos amazônicos são considerados os mais inteligentes da espécie, com uma capacidade cerebral de 40% maior do que a dos seres humanos. 

Extinção


Rio de Janeiro – O vulnerável boto-cor-de-rosa do Amazonas, uma das poucas e principais espécies de boto do mundo, está correndo risco de extinção ainda maior por seu uso como isca de carne para a pesca de uma espécie de baixo valor comercial.

O alerta é da bióloga Sannie Brum, pesquisadora do Instituto Piagaçu (IPI) e que estudou os hábitos de 35 comunidades pesqueiras no rio Purus, no Amazonas.

Segundo seu estudo, os moradores da região matam anualmente até 144 botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) por ano, número superior a qualquer limite seguro que garanta sua sobrevivência, para usá-los como ceva na pesca da piracatinga (Calophysus macropterus), um peixe necrófago conhecido como urubu d”água.

“Chegamos a esse cálculo depois que nos informaram que os pescadores extraem da região cerca de 15 toneladas de piracatinga por ano e que 90% da isca que utilizam é carne de golfinho rosado”, disse a bióloga à Agência Efe.
De acordo com a pesquisadora, como a piracatinga se alimenta de carne podre, os pescadores utilizam como ceva pedaços de peixes com muito gordura e até jacarés.

Os pescadores preferem usar o boto como ceva porque sua carne tem mais gordura e um cheiro forte e característico que atrai a piracatinga e, como sua pesca está proibida, não podem vendê-lo no mercado, explicou a bióloga.

O jacaré tem maior valor comercial para o pescador, que pode aproveitar tanto sua carne como seu couro, por isso é menos viável como isca, acrescentou a colaboradora da Associação de Amigos do Peixe-Boi (Ampa).

“O cálculo que fizemos se refere exclusivamente à parte baixa do rio Purus, que é uma área de proteção ambiental, mas temos informações de que a prática se estende ao longo do rio, por isso o atual volume de pesca de piracatinga exigiria o sacrifício de cerca de 500 botos por ano apenas nessa região”, segundo Sannie, cujo estudo foi financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

“Outros estudos nos permitem dizer que 1.600 botos são usados por ano para a pesca de piracatinga pelos pescadores de Tefé, no rio Solimões, e que o número chega a 2.500 em toda a região de Manaus. São números que assustam para uma espécie considerada vulnerável”, comentou.